sábado, 15 de fevereiro de 2014

Fisioterapeuta cria treinamento e minimiza lesões na formação de fuzileiros navais

Treinamento Militar Funcional (TMF) foi desenvolvido pela Dra. Angela Horvat.

A fisioterapeuta Dra. Angela Horvat de Farias Cesar Barboza, 1º tenente do Corpo de Oficiais da Marinha do Brasil, desenvolveu um relevante trabalho diante da sua observação de lesões adquiridas por alguns recrutas ao longo dos treinamentos físicos nos cursos de formação de fuzileiros navais, que causaram algumas baixas nas turmas anteriores.

A profissional conta que, ao chegar no Centro de Instrução Almirante Milcíades de Portela Alves (Ciampa), localizado no bairro de Campo Grande, no Rio de Janeiro, em 2010, observou que existia um alto índice de lesões ortopédicas no setor de Fisioterapia, com queixas repetidas de dores na lombar, nos joelhos e tornozelos.

A fisioterapeuta notou que ao final do curso de formação de fuzileiros navais havia uma incidência muito grande nos atendimentos de saúde em relação a essas lesões sofridas durante o exercício de campo – onde os recrutas passam por uma série de testes, inclusive físicos, muito intensos – que duram de sete a nove dias, em Itaoca, no Espírito Santo.

Percebida essa demanda, a Dra. Angela Horvat sugeriu ao comandante responsável pelo Ciampa que fosse feito um trabalho durante todo o curso de formação, para que os recrutas chegassem ao exercício de campo com excelente condicionamento e preparo físico, evitando baixas por lesões.

Com o apoio do comandante do Centro de Treinamento, Capitão-de-Mar-e-Guerra Giovanni Farias de Souza, foi feito um levantamento de dados das incidências e, a partir daí, a Dra. Angela Horvat saiu em busca de cursos e congressos de Fisioterapia Desportiva. Em um evento internacional conheceu os exercícios funcionais.

Com esses conhecimentos, a fisioterapeuta começou a desenhar uma metodologia própria dentro da funcionalidade do treinamento do curso de formação de fuzileiros navais, batizada de Treinamento Militar Funcional (TMF). Realizada em dez semanas, seu objetivo principal é a correção dos movimentos estático e dinâmico, focando na execução correta de cada movimento e evitando a sobrecarga nas articulações durante os exercícios militares. O resultado foi surpreendente, como explica a própria Dra. Angela.

“Foi uma surpresa muito grande nessa última turma de 2013, porque os recrutas compreenderam perfeitamente o objetivo do trabalho de Fisioterapia, que é prevenir lesões e, em contrapartida, elevar o condicionamento físico deles. Ao final do levantamento de dados e pesquisa específica, foi observado um índice bem reduzido de Síndrome de Rabdomiólise – que se dá pela falta de condicionamento físico e hidratação inadequada – desde que foi implantado o TMF. Comparando os dados entre as turmas 2/2012, que é anterior ao Treinamento, foram registrados 22 casos de Rabdomiólise, contra zero na turma 2/2013, que utilizou o TMF.

Outro dado importante, além do condicionamento físico dos recrutas estar muito superior ao de turmas anteriores ao Treinamento, é que houve uma diminuição considerável na incidência de lesões ortopédicas. Em virtude dos bons resultados, o comandante Giovanni Farias de Souza implementou oficialmente o TMF no curso de fuzileiros navais do Ciampa. Todos os recrutas recebem um manual com os 321 exercícios que eles executam durante o curso e saem com esse conhecimento para ser aproveitado ao longo da carreira e da vida pessoal”, orgulha-se a profissional.

A fisioterapeuta faz questão de dividir os louros com todos que a ajudaram nesse processo, e reconhece que o sucesso do seu trabalho só foi possível por conta da ajuda de professores, colaboradores e estagiários. É o caso de suas professoras de Fisioterapia, Dra. Kerlany Souza Jales, Dra. Eliane Guedes e Dra. Rosa Maria Donadello Maini, do Centro Universitário Moacyr Sreder Bastos, e dos acadêmicos de Fisioterapia Thássia Duarte de Araújo, Caroline Silva dos Santos, Juliana Silvano Alves da Silva, Carlos Eduardo Pereira Assumpção Duarte Rocha e Pedro Nascimento de Carvalho Cruz.

Atualmente, a oficial-fisioterapeuta faz parte de um grupo de trabalho que visa a criação de um manual de atividades físicas que deverá ser adotado por toda a Marinha do Brasil. O projeto está em andamento e já foi oficializado por meio de Portaria, a fim de implementar o TMF para que todos os militares do Mar recebam o benefício e garantam uma melhor saúde durante a execução dos exercícios.


Veja os depoimentos a respeito do TMF



"Tenho o privilégio de ser comandante deste Centro de Instrução e contar com uma equipe profissional competente. E nessa equipe destaco a preocupação que todos temos com a segurança dos alunos que serão futuros fuzileiros navais. Nesse aspecto é relevante ressaltar a importância do trabalho que foi desenvolvido neste Centro, que partiu de uma preocupação da oficial 1º tenente Angela, que é fisioterapeuta. Esse trabalho foi importante, pois foca em evitar lesões ortopédicas e físicas de qualquer natureza, e resultou no Treinamento Militar Funcional, o TMF, e isso é imensamente gratificante.” 
Comandante Giovanni Farias de Souza, Capitão-de-Mar-e-Guerra do Corpo de Fuzileiros Navais do Ciampa.


“Consegui terminar o curso sem sentir dor nas articulações. Aprendi que o objetivo do TMF não era ganhar somente força muscular e sim realizar os movimentos corretamente, dentro das atividades militares, evitando lesões. Não adianta fazer exercício com força bruta de qualquer maneira. É preciso fazer corretamente e dentro do limite de cada um. Com isso evitamos nos lesionar e desistir do curso. Alguns amigos que foram de outras turmas que não tiveram o TMF exageraram nos exercícios e acabaram abandonando o curso. O meu corpo mudou em relação à postura e com o aprendizado fico me policiando para não ficar com uma postura de qualquer jeito. Além disso, não tive nenhuma dor durante todo o curso. A parte muscular melhorou de forma indireta e consegui ganhar quase 4 kg de massa muscular. A Fisioterapia ensina a realizar os exercícios corretamente e ajuda a prevenir lesões ortopédicas. Sempre executo as atividades do dia a dia, como o quadro de pontaria com armamento, movimentos de ordem unida, entre outros, com base nos exercícios do TMF. O uso de elástico nas abdominais me ajudou também nos testes de aptidão física, melhorando meu desempenho.”

Bruno de Almeida Almada, 22 anos, Fuzileiro Naval (Turma 2/2013 / Ciampa).



“Sentia dores na região lombar e um incômodo no ombro direito devido a uma queda que tive. Com o TMF as dores não incomodaram mais e houve uma melhora na minha postura. O TMF tem uma grande importância na execução de movimentos, pois muitos chegam sem saber realizar os exercícios corretamente e o treinamento faz com que isso não aconteça, além de evitar que se tenha lesões por executar os exercícios de maneira errada. Pretendo continuar executando o TMF para minha vida diária, porque melhorou minha postura. Um simples ato de pegar um objeto no chão de forma errada pode trazer consequências e, dependendo da lesão, pode atrapalhar a continuidade do curso. Tive uma experiência no meu recrutamento de marinheiro onde, ao abaixar para fazer flexão, o fiz de maneira errada e lesionei um músculo nas costas. O TMF ensina como realizar qualquer movimento de maneira consciente. A Fisioterapia é importante porque ensina a fazer os movimentos simples para que a pessoa não se lesione com facilidade. Um bom exemplo é a forma de caminhar: eu tinha uma fascite plantar crônica, realizei vários tratamentos e havia uma certa melhora, mas o mesmo problema voltada. Com o exercício de caminhar em base instável de maneira correta, não tive mais nenhuma crise.”

Iago Rodrigues de Olindo, 21 anos, Fuzileiro Naval (Turma 2/2013 / Ciampa).



“Tive uma lesão e o TMF foi de grande importância para mim, pois me ajudou a permanecer no curso e não desistir. Esses exercícios fortalecem os músculos para o treinamento que o curso exige. Melhorou minha postura e também minha rotina, com hábitos diferentes como, por exemplo, me alongar pela manhã. Além disso, os exercícios ajudaram para o profissionalismo militar, principalmente nas atividades que forçam o joelho, como corrida, natação, entre outros. Também me ajudou no teste de aptidão física, melhorando meu psicológico. O trabalho fisioterapêutico do TMF conseguiu que muitos recrutas não desistissem do curso com trabalho preventivo e de recuperação. Levarei esses ensinamentos para os longos anos da minha carreira.”

Magno da Costa Hóstio, 21 anos, Fuzileiro Naval (Turma 2/2013 / Ciampa).


“Tenho um problema crônico de dor na região lombar e, após o TMF, não senti mais dores. Ele é importante para não aumentar as lesões, melhorar a performance nos testes de aptidão física, que por sinal me ajudou muito na barra - cheguei fazendo somente três barras e terminei com treze. O TMF ensinou como realizar um correto agachamento, de maneira a não forçar a articulação do joelho, além de posturas que não forçavam a coluna. A Fisioterapia, além de tratar, ensina por meio do posicionamento correto dos exercícios, a prevenir lesões.”

Diego Gomes Sanson, 22 anos, Fuzileiro Naval (Turma 2/2013 / Ciampa).

Galeria de Fotos

Nenhum comentário:

Postar um comentário