
Estava claro para o Governo brasileiro, no intuito de estender
e consolidar sua autoridade sobre uma nação espalhada
ao longo de uma extensa fronteira marítima, que o elemento
mais importante naquela situação era o Poder Marítimo.
Ou seja, somente ganhando o domínio do mar poderia o
Governo expulsar os portugueses, impedir a chegada de reforços
de Lisboa, forçar o Norte a submeter-se, e colocar as
diversas províncias sob a autoridade imperial.

Os movimentos a favor da libertação política do Brasil se desenrolavam também no exterior. Em Londres, encontrava-se o General Felisberto Caldeira Brant Pontes, aliado do partido patriótico e amigo de José Bonifácio. Tornou-se, para o novo Governo brasileiro, um agente digno de confiança e capaz de comprar armas, levantar empréstimos, coordenar o recrutamento de estrangeiros e dar imediato aviso do que ocorresse em Portugal. O General Caldeira Brant tinha opiniões firmes e esclarecidas sobre os problemas de estratégia militar, sua passagem pela Real Academia Naval, em Portugal, o levou a adquirir plena consciência da importância do poderio marítimo. A necessidade de uma Armada Imperial que merecesse confiança constituiu um tema ao qual se reportava com freqüência em suas correspondências com o amigo e Ministro José Bonifácio.

O Almirante Cochrane assumiu o Comando-em-Chefe da Esquadra Imperial em 21 de março de 1823, quando içou, no mastro da Nau Pedro I, o seu pavilhão de 1º Almirante da Marinha do Brasil. A 1º de abril, partiu do Rio de Janeiro com destino a Salvador levando as ordens do Ministro Cunha Moreira, para que estabelecesse um rigoroso bloqueio, destruindo e tomando todas as forças portuguesas que encontrasse, fazendo o maior dano possível ao inimigo.
O início do bloqueio ao porto de Salvador foi retardado em virtude da vinda de uma Esquadra portuguesa para reforçar a resistência do General Madeira de Mello, comandante das tropas portuguesas estacionadas na Bahia. Ao amanhecer do dia 4 de maio de 1823, as duas esquadras se avistaram em alto-mar e imediatamente a capitânia brasileira desfraldou no mastro do traquete o sinal de Preparar para o combate! Porém, por volta das sete horas da noite baixara um violento temporal impedindo a continuidade do combate, fazendo com que os navios portugueses se recolhessem ao porto de Salvador.

O Capitão-de-Fragata John Taylor, um dos oficiais ingleses que acompanharam o Almirante Cochrane, comandando a Fragata Niterói, recebeu a incumbência de perseguir até as costas da Europa a fugitiva, mas, ainda assim, poderosa esquadra portuguesa, composta de 86 navios, de guerra e onerários, só regressando a 9 de novembro de 1823.

Os portugueses em Montevidéu continuavam a resistir aos interesses do Governo Imperial brasileiro durante 1823. Sofriam um rigoroso bloqueio desde 15 de março, e em meados do ano, as vitórias da Marinha Imperial no Norte do país permitiram que fosse reforçada a flotilha brasileira no Sul. O auge da resistência portuguesa se deu a 21 de outubro, quando navios tremulando a bandeira lusitana, sob o comando de D. Álvaro da Costa, saíram do porto de Montevidéu em ordem de batalha. Seguiu-se um violento combate onde os brasileiros mantiveram-se firmes, comandados pelo Capitão-de-Mar-e-Guerra Pedro Antônio Nunes, o que forçou os portugueses a abandonarem a luta e retirarem-se para Montevidéu. A futilidade em prosseguir a resistência estava clara, por isso foram iniciadas as negociações para a rendição portuguesa, o que veio a ocorrer em 18 de novembro de 1823.

Sob seu comando, a Marinha Imperial assegurou o contato entre os núcleos dispersos da população, varreu dos mares as esquadras hostis e, através da ligação entre os centros mais desenvolvidos, propiciou a conjugação dos esforços que nos conduziram à condição de país livre. E mais importante que as ações militares propriamente ditas foi a simples presença das Forças Navais do Império nas províncias do Norte. Tanto que por volta de 1824 todas as tropas portuguesas já se encontravam fora do território brasileiro, e, em 1825, a Independência do Brasil foi reconhecida por Portugal e pelo mundo.
A extraordinária habilidade dos homens que comandaram e tripularam os navios da Esquadra brasileira fez com que essas ações iniciais de combate direto fossem seguidas por patrulhas eficientes que asseguravam o completo domínio do mar para o Brasil e, com isto, evitavam qualquer possibilidade de reforço de tropas portuguesas para o território brasileiro. O alto grau de eficiência de nossos navios foi sentido, também nas negociações de paz, cujas condições preliminares iniciais dos portugueses eram de que cessássemos nossas ações navais. Ou seja, a Marinha de Guerra mostrou-se definitivamente como um fator decisivo para a consolidação da Independência do Brasil.
FONTES BIBLIOGRÁFICAS:
BRASIL, Serviço de Documentação da Marinha. História Naval Brasileira. Terceiro Volume, Tomo I. Rio de Janeiro: SDM, 2002.
CAMINHA, João Carlos Gonçalves. Formação da Marinha Imperial. In Navigator, nº 10, Dez/1974, pp 5-28.
MAIA, João do Prado Maia. A Marinha de Guerra do Brasil na Colônia e no Império. Rio de Janeiro: Livraria Editora Cátedra, Brasília: Instituto Nacional do Livro, 1975.
VALE, Brian. Estratégia, Poder Marítimo e a Criação da Marinha do Brasil 1822-23. In Navigator, nº 4, Dez/1971, pp 5-21.
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